ASPECTOS HISTÓRICOS
1.1 Povoamento: Primeiros Habitantes
1.2 Esperantina Fazenda
FATOS DA HISTÓRIA DE ESPERANTINA
Dito isso, pediu um vidro de óleo, abriu e passou no bigode e cabelo e pergunto o preço. Respondeu o Sr. Antonio do Rego que custava 2$600. Replica o cigano: -“só vale dez tostões e é o que pago”. Mandou pegar café e disse a mesma coisa sobre o preço. Pegou os copos que foram postos para servir o vinho e atirou-os sobre a prateleira, fazendo descer copos que estavam embrulhados, expostos à venda. Disse injúria e afirmou: -“Seu Antonio do Rego, o senhor merece é uma visita do Antonio Silvino”! Retirou-se com zombarias e risadas.
Depois do ataque, o Sr. Antonio do Rego seguiu para Barras, de onde telegrafou ao governador e secretário de polícia pedindo providências.
O governador Miguel Rosa organizou com o secretário de polícia uma tropa de volantes comandada pelo 2º tenente Manoel da Cruz Oliveira, que partiu de Teresina na manhã de cinco de novembro num vapor com destino a Miguel Ales. Chegaram ali no dia sete e encontraram o cigano por alcunha de “Seu homem”, com seu pequeno bando. O senhor Manoel da Cruz intimou-a retirar-se do nosso território, em virtude de ordem, por escrito, do governo do Estado. Seguiu o 2º tenente para Marruás onde teve notícias dos ciganos a umas cinco léguas, no lugar Campo Largo. Estes obedeciam ao líder Liberato Guerreiro, que havia jurado, na casa do coronel Marcelino Rego, tirar a vida do capitão Antonio Rego.
Chegando a força oficial a Campo Largo de madrugada, o tenente Manoel da Cruz postou a força policial deitada em linha de atiradores, a uns
Regressando a Marruás, encontraram no caminho um pequeno grupo de nove ciganos que não resistiram às ordens e se retiram do nosso território. Em poder deles não encontraram nenhuma arma. No Marruás, deu descanso à tropa e foi ter ao lugar Tanquinho, onde constava achar um grupo de cigano, o que não era verdade. Dali seguiu novamente a Marruás e a Peixe onde recebeu um guia de confiança e dirigiu-se ao Retiro da Boa Esperança, percorrendo diversos lugares e pousando no lugar Beiru. Ai teve notícias do bando chefiado por Benjamim da Rocha Medrado que pernoitara a uma légua de distância, no lugar Engano. Resolveu o tenente Oliveira seguir com a tropa somente pela manhã, a fim de evitar algum incidente como se deu
Encurralados, refugiaram-se na casa do Sr. Manoel Lages, dizendo-se perseguidos e que eram homens de bem. A força policial procurou logo cercar a casa, auxiliado pelo proprietário, que um dos ciganos quisera, segundo ela, matar a pistola, quando procurava tirar o filho dos braços de uma cigana. O cabo Leandro foi mandado com dez praças para intimá-los a saírem e renderem-se entregando as armas. Benjamim Medrado, o chefe do bando, respondeu que não se sujeitava a intimações e que o destino dele era aquele e não entregava as armas.
A casa do coronel Manoel Lages foi invadida, com seu auxílio, pela força policial, tendo os ciganos fugido pelos fundos, refugiaram-se nas matas próximas, de onde fizeram fogo a força policial. O tenente Manoel da Cruz Oliveira também ordenara abrir fogo sobre eles. Morreram no tiroteio nove ciganos, inclusive o chefe Benjamim Medrado. Foram baleados um menino cigano, duas ciganas e um homem do povo. Dos fugitivos, muitos voltaram para o Ceará, outros atravessaram o Parnaíba para o Maranhão.
Seus bens foram confiscados, muitos deles devolvidos a seus donos. As mulheres ciganas foram amparadas, recebendo transporte, alimento e dinheiro.
Inquérito policial foi instaurado para apurar os crimes, depuseram muitas testemunhas. Os ciganos mortos não tiveram nenhum tratamento, sendo enterrados no cemitério velho, em vala comum.
O segundo tenente Manoel da Cruz Oliveira, permaneceu no Retiro da Boa Esperança por mais três dias, depois voltou a Teresina sendo recebido como herói. Mais tarde, após apuração do massacre foi afastado da força policial a bem do serviço público, tendo sido seus atos julgados arbitrários.
2. Peste negra
No início do século XX, quando o povoado Retiro da Boa Esperança começou a ser realmente desbravado, desmatado e edificadas muitas residências, o povo foi acometido de uma grande epidemia que quase o dizimou. As pessoas encontravam-se de mãos e pés de cor amarelada, febre alta, vômitos de cor preta e feridas na gengiva. O povoado vendo-se atacado pela enfermidade que desconhecia, batizou-a de peste. Peste e negra para matar grande parte da população daquela época.
A falta de médicos levou muitas pessoas ao cemitério, às vezes três ou quatro no mesmo dia. As mortes eram tão freqüentes que já não dava para fazer caixão, enterravam na própria rede do falecido.
Foi quando o povo e os vaqueiros viram no gado a única salvação, para isso reuniam grande manada que se batiam nas ruas estreitas do povoado.
A crença de que o bafo do gado cura doenças é antiga como também de que a pessoa que dormia perto dele estava protegida de todo malfazejo.
E, suplicando ainda pela intervenção de São Sebastião, protetor das pragas, o povo fez promessa de que se o santo livrasse o Retiro da Boa Esperança da peste passaria a festejá-lo. E Cristino Félix de Melo esculpiu uma imagem do santo que passou a ser festejado como o segundo padroeiro, assim surgindo os festejos de São Sebastião.
3. Chacina negra
No festejo de São Sebastião , do ano de 1947, o padre teve que antecipar a festa religiosa para participar de um retiro espiritual de padres que aconteceria naquela data. O último dia do festejo ocorreria em 16 de janeiro, mas por volta do meio dia surge um grande incidente. Havia muitas bancas de jogos caipira e outros; as maiores freqüências, entretanto, davam-se nos jogos de baralhos e tampinha, onde os mercenários faziam furtos. Neste dia, Crispim Borges não estava como sorte; jogava tampinhas e perdia sucessivamente, trapaceado e enganado pelo profissional do jogo. Crispim havendo feito uma aposta maior e, perdendo, zangou-se, reclamou do jogador, dizendo que ele havia lhe roubado. O jogador respondeu que não devolvia dinheiro algum. Que aquele jogo era pra perder e não ganhar. Crispim derrubou a banca de jogos. O dono partiu para cima de Crispim, este deu-lhe um tremendo bofete, atirando-lhe ao chão, quando se levantou deu um ponta-pé em Crispim que foi também ao chão. Chega mais membros negros da família Borges que tomam partido de Crispim e travam luta sangrenta na base de socos e pontapés. A polícia chega e intervém, prendendo Crispim.
Os irmãos, vendo Crispim se preso, reagiram com murros. Travou-se verdadeira luta entre os Borges e o corpo de polícia. Armados de paus e pedras os Borges espancavam a polícia e os donos das bancas de jogos. A polícia pediu reforço, vieram policiais armados de rifles. O povo chama o tenente Diniz, na época também prefeito do município. Diniz Chaves saiu a frente de sua casa para ir tentar apaziguar a briga, sendo imediatamente alvejado com uma pedra, lançada pela família dos negros. Não se sabe ao certo quem atirou, tendo o prefeito caído, entrando em estado de coma, causando grande clamour na cidade. Com o atentado ao prefeito, a polícia começou a atirar na família Borges. No tiroteio morreu Raimundo Borges com um tiro que lhe amputara a mão. Miguel ficou quase estraçalhado no chão. Crispim ficou gravemente ferido, morrendo depois de muito haver sofrido. Seu pai um ancião, fugiu nadando no rio. Na travessia foi brutalmente morto por um soldado. Morto, o senhor foi arrastado sem piedade. A roupa do velho ficou aos trapos. O corpo dilacerado, o sangue esvaziava por todo o percurso. Próximo à casa do prefeito, foi jogado ao chão pela polícia.
A família do prefeito, vendo o velho dilacerado, ficou apavorada. Muitas pessoas saíram feridas a pauladas e pedradas. A cidade ficou aterrorizada, o padre suspendeu a festa, não ocorreu nem a procissão, pois as ruas encontravam-se ensangüentadas.
O povo e a família do prefeito não tinham esperança que o tenente Diniz ficasse bom e muitos choraram sua possível morte. No entanto, restabeleceu sua saúde, foi homenageado como festa pelo povo, tendo ficado muito agradecido pelo carinho recebido.
A família Borges ficou quase dizimada pela força brutal da polícia que agira com arbitrariedade.
E assim, toda vez que se antecipa os festejos de São Sebastião, acontece alguma coisa, segundo a crença popular.
Extraídos do Livro "Aspectos de Esperantina" de
Valdemir Miranda de Castro
Um comentário:
AINDA FALTA muitas coisas tente se atualizar
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