sábado, 27 de novembro de 2010

Nós todos contra o tráfico


A quinta-feira 25 de novembro de 2010 entrou para a história do Rio de Janeiro como o dia em que a cidade se insurgiu contra o tráfico. Hipnotizada, a população parou para assistir em casa e nas ruas às cenas de sua guerra particular, transmitidas ao vivo pela televisão.

Pela primeira vez na história, veículos militares blindados da Marinha trafegaram pelas vielas de uma favela. Seis tanques de guerra do mesmo modelo usado no Iraque, e dois veículos anfíbios abriram caminho para a entrada de homens do Bope na Vila Cruzeiro, o principal bunker do Comando Vermelho, maior facção criminosa do Estado. A Vila Cruzeiro, ao lado dos complexos de favelas da Penha e do Alemão, era considerada uma fortaleza inexpugnável, refúgio seguro para bandidos e traficantes.

Todos assistiram à ação da polícia como se estivessem diante do filme Tropa de elite, versão 3. A incursão envolveu 510 policiais e 88 fuzileiros navais. Foi uma resposta fulminante e bem coordenada aos atentados terroristas que, ao longo da semana, incendiaram pelo menos 95 veículos nas ruas. A polícia esperava conflito com os traficantes da Vila Cruzeiro, mas o que se viu foram dezenas de bandidos fugindo pela mata, de moto, picape ou a pé, rumo ao Complexo do Alemão. Moradores acenavam com panos, toalhas e lençóis brancos, pedindo paz e ajuda. Na sexta-feira (26), chegou um reforço com 800 soldados do Exército – e a ocupação dos morros era dada como certa. A dúvida era quando e como seria retomado todo o território em poder dos bandidos.

Estava em jogo ali a confiança do mundo na capacidade do Rio de Janeiro sediar as Olimpíadas de 2016 e a Copa de 2014. E também o futuro da política de segurança da cidade, em especial de um projeto que, ao menos parcialmente, devolveu nos dois últimos anos a paz a vários pontos da cidade: as Unidades de Polícia Pacificadora, ou UPPs. Formadas por jovens policiais, treinados durante seis meses, as UPPs já retomaram o território de 12 favelas antes dominadas por traficantes. Acompanhadas de ginásios, creches, postos de saúde, bancos, elas tentam garantir a presença do Estado na área. Sua implantação enfrentará agora seu maior teste no epicentro do tráfico. Se tiver sucesso, o Rio poderá se tornar um exemplo para o Brasil e para todo o mundo.

Fonte: trecho extraído da Revista Época

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